SUBCOMANDANTE MARCOS: DO MÉXICO PARA O MUNDO - A PALAVRA É A NOSSA ARMA
Dizem por aí que ele nasceu nos anos 1950, em Tampico, México. Dizem também que estudou filosofia na Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM). A verdade é que não se sabe tanto sobre sua identidade. Uma coisa é fato: ele é um grande comunicador.
Entre discursos (onde o rosto não se mostra, logo a voz e o olhar se sobrepõe) e mais de 200 publicações, proclamou sua visão política e filosófica do mundo, traçou suas críticas e propostas e deu voz ao Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN).
Mas nem só na firmeza da luta ou no discurso acadêmico sua voz tem ecoado: suas publicações são bastante diversificadas, há livros infantis, romances, e até pornografia - esta última, lhe serviu como arrecadação de fundos para o EZLN em 2007.
Ironia e poesia se misturam e pincelam suas narrativas. O forro educacional permeia quase todas elas, como em “A História das Cores”, inspirado em lendas da cultura indígena de Chiapas, cuja mensagem firma com delicadeza a questão do respeito às diversidades.
As fábulas estão muito presentes em seus livros e histórias, e fazem alcançar diversos públicos, de diversas idades, condições sociais e culturas, tudo graças à pluralidade de seu tom de voz. Criando diferentes condições, afinal, alcançamos a igualdade...
Confira abaixo um pequeno recorte desta voz latinoamericana:
PS. Que fala do amor, do desamor e de outras bobagens...
Tonita veio se exibir com sua nova xícara de chá. Sem anestesia, vai logo soltando que...
- O amor é como uma xícara de chá que a cada dia cai no chão e quebra em pedaços; de madrugada juntamos os pedaços e, com um pouco de umidade e calor, colamos, e a xícara passa a existir de novo. Quem está apaixonado passa a vida receando a chegada do dia terrível em que a xícara ficará tão quebrada que não será mais possível uni-la. Vai embora assim como veio, reiterando sua recusa a um beijo que, agora mais do que antes, “arranha muito”.
- O amor não é mais que uma balança complicada – diz Durito. De um lado ficam as coisas boas e, do outro, as ruins. O amor será tão longo quanto o tempo em que uma balança boa supere a balança ruim. Quem ama passa a vida acumulando pesos e cuidados na balança boa. Presta tanta atenção nesse peso que se esquece da balança ruim. Nunca entenderá como um peso, que apenas seria uma pluma de suspiro, pôde desequilibrar a balança de forma contundente, definitiva, irremediável...
Fiquei pensando e fumando. A lua era uma unha nacarada, uma vela inchada de luz no barco da noite. Assomou o seu gume na cúspide da montanha e depois se lançou com tal força que seu passo maltratou não poucas estrelas.
- O amor é como uma xícara de chá que a cada dia cai no chão e quebra em pedaços; de madrugada juntamos os pedaços e, com um pouco de umidade e calor, colamos, e a xícara passa a existir de novo. Quem está apaixonado passa a vida receando a chegada do dia terrível em que a xícara ficará tão quebrada que não será mais possível uni-la. Vai embora assim como veio, reiterando sua recusa a um beijo que, agora mais do que antes, “arranha muito”.
- O amor não é mais que uma balança complicada – diz Durito. De um lado ficam as coisas boas e, do outro, as ruins. O amor será tão longo quanto o tempo em que uma balança boa supere a balança ruim. Quem ama passa a vida acumulando pesos e cuidados na balança boa. Presta tanta atenção nesse peso que se esquece da balança ruim. Nunca entenderá como um peso, que apenas seria uma pluma de suspiro, pôde desequilibrar a balança de forma contundente, definitiva, irremediável...
Fiquei pensando e fumando. A lua era uma unha nacarada, uma vela inchada de luz no barco da noite. Assomou o seu gume na cúspide da montanha e depois se lançou com tal força que seu passo maltratou não poucas estrelas.
Tudo bem de novo. Feliz ano, oxalá que agora sim seja novo.
Subcomandante insurgente Marcos
23 de dezembro de 1995
23 de dezembro de 1995
A História das Cores
“...o azul ficou parte na água e parte no céu, o verde caiu nas árvores e nas plantas, o marrom-café, que era mais pesado, caiu na terra, o amarelo, que era a risada de uma criança, voou até pintar o sol, o vermelho chegou até a boca dos homens e dos animais, que o comeram e ficaram vermelhos por dentro, e o branco e o preto já estavam no mundo, e era um relaxo como os deuses lançavam as cores, e nem se preocupavam onde elas iam parar, e algumas cores salpicaram nos homens e é por isso que existem homens de diferentes cores e diferentes pensamentos.”(Subcomandante Marcos)
À sociedade civil - onde quer que se encontre
"Liberdade. Diz Durito que a liberdade é como a manhã. Alguns a esperam dormindo, porém alguns acordam e caminham pela noite para alcançá-la. Eu digo que os Zapatistas são os viciados em insônia que desesperam a história. Luta. O Velho Antonio dizia que a luta é como um círculo. Pode começar em qualquer ponto, mas nunca termina. História. A história não é mais que garatujas escritas por homens e mulheres no solo do tempo. O poder escreve sua garatuja, a elogia como escrita sublime e a adora como se fosse a única verdade. O medíocre limita-se a ler as garatujas. O lutador passa o tempo todo preenchendo páginas. Os excluídos não sabem escrever... ainda. Aceite, senhora, estas três flores. As outras quatro chegarão logo... se é que chegam. Tudo bem. Saúde e lembre-se que a sabedoria consiste na arte de descobrir, atrás da dor, a esperança. Das montanhas do sudoeste mexicano,
Subcomandante insurgente Marcos.
...La patria que construimos es una donde quepan todos los pueblos y sus lenguas, que todos los pasos la caminen, que todos la rían, que la amanezcan todos."
por anabê em 28 de set de 2012 às 16:29
REEditado por Blogdovicente
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