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terça-feira, 18 de março de 2014

O Sermão da Montanha, Ética e Política - Manifestações Caboclas

 

Manifestações Caboclas 

O Sermão da Montanha, Ética e Política 

Muito apropriado o título, e considero excelente a crônica que transcrevo abaixo nesse post do blogdovicente, texto-resenha do livro: Ciência e Política - duas vocações do Max Weber. Embora, discorde do autor apenas na sua conclusão final. Eu, pertenço ou penso pertencer a um grupo de seres humanos que acredita que a vida deva ser vivida segundo uma ética pessoal que se aplique perfeita e completamente tanto nas ações referendadas na crença individual, de cunho religioso espiritual, assim como, nas nossas relações humanas como um todo, inclusive nas relações políticas do indivíduo.

Realmente, "O Sermão da Montanha" tem um precioso conteúdo ético e moral, mas, é também um conteúdo político, e deve ser aplicado a todos os homens e não só aos santos. 
Penso que o que pode salvar a humanidade não é o que pensamos ou dizemos ser, e sim nossa práxis nas ações do cotidiano. Se não se acatar também o sentido político do cristianismo, então de fato, não se é cristão.

O mundo é de homens comuns, e aqueles que melhor se assemelharam a Jesus Cristo tornam-se 'santos'. Nisso, é que discordo do eminente mestre jurista, pois, segundo sua afirmação: "A ética do evangelho é para candidatos a santos e a política é feita por homens e mulheres de carne e osso...", o sermão não é dirigido a santos e sim aos homens comuns, os pecadores. Pois, se tem consciência que se é pecador, arrepende-se e segue o Sermão da Montanha. Sendo assim, então este será também para os homens. Não é questão de ser bom ou mal, e sim de ser justo na razão. Manter a consciência limpa. Caso contrário não haveria evolução sócio-cultural-científico-tecnológico-humana-espiritual da humanidade, seria o caos.



Quanto a afirmação que "...os profetas desarmados sempre foram derrotados", é uma 'verdade aparente', pois carece da derivação do tempo no mundo secular. No mundo do "não tempo" o bem sempre vence. No mundo espiritual os profetas desarmados são sempre os vitoriosos, pois, segundo uma ética divina civilizatória, (Ets),  são essas ações que tem ajudado na evolução da humanidade e não o contrário. 
Nos casos históricos aqui no Brasil, (embora existam milhares de perseguições caboclas não registradas), relembra-se três grandes movimentos defensivos emancipatórios de cunho religioso espiritual em que os "profetas desarmados" foram derrotados em armas pelos que ainda hoje são a elite nessas pragas e estão no poder: As Guerras Guaraníticas, a Guerra de Canudos e a Guerra do Contestado. O fato dessa manifestações caboclas existir e resistir ao tempo prova que para alem do tempo, sempre existirão homens santos mártires, dispostos a defender o Sermão da Montanha, pois, segundo as profecias, no fim dos tempos haverão dias que não mais será assim. Então de que lado estará o pragmático?

Quanto ao Max Weber(1864-1920), penso que sua tese: "Ciência e Política - duas vocações"também peca quando defende uma ética burguesa-capitalista, em que o homem de conhecimento (o cientista) não deve ou necessita ter o dom da política ou exerce-la, sob pena de prejuízos financeiros e sociais. E que o homem político não deve ou necessita ter o dom ou o esforço do conhecimento sob a mesma pena. Ao meu ver, isso cria uma doença psíquica na humanidade chamada dupla personalidade, (nossos políticos), pois, na verdade tratasse do mesmo homem, (o capitalista), portanto são parte de uma mesma vocação. O conhecimento, baseado na ética pessoal-religioso-espiritual é que sempre deve preceder a ação política e o "Sermão da Montanha" é como  luzeiro, um lembrete aos cristãos, referência para nossa práxis  pedagógica do cotidiano.
Monge José Maria - Contestado Paraná



O Sermão da Montanha, Ética e Política

Max Weber, em Ciência e Política: duas vocações, faz referência ao Sermão da Montanha proferido por Jesus Cristo (Mateus 5, 1-48). Considero este um dos mais belos textos bíblicos, inspirador da militância política fundamentada numa interpretação teológica libertadora. Jesus declara que o reino pertence aos pobres (está escrito “pobres de espírito”, mas isso não impedia uma leitura favorável aos social e politicamente oprimidos). Ele bem-aventura os que choram, os que têm fome e sede de justiça, os perseguidos por defenderem a justiça, mas também os mansos, os misericordiosos, os limpos de coração e os pacificadores. 
Sermão da Montanha, como a Bíblia em geral, permite várias interpretações e, claro, aquela que enfatiza e fortalece a luta por um mundo mais justo e igualitário. “Vós sois o sal da terra”, diz Ele. É uma excelente metáfora para os que almejam fecundar um novo mundo. Isso exige uma ação consciente da missão a cumprir, fundada numa ética da convicção. E é um desafio e tanto, pois, “se o sal for insípido com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens” (Mateus 5, 13).
Sermão da Montanha, como demonstra Max Weber, problematiza as relações entre ética e política. São esferas da ação humana incompatíveis e irreconciliáveis? Haveria duas éticas, uma válida para o homem político e outra para a ação humana externa à política? O texto bíblico expressa uma ética absoluta, uma ética do “tudo ou nada”, um “mandamento incondicional e unívoco” (Weber, 1993, p.111). A questão central está em como compatibilizar meios e fins. A política sempre recorre a meios violentos, mesmo em períodos pacíficos (o poder político é definido pela legitimidade e exclusividade no uso de meios coativos). A espada do Estado paira sobre as nossas cabeças em cada momento das nossas vidas, mesmo quando estamos reclusos ao lar e nos limites da individualidade, as teias do Estado nos alcançam. Porém, a ética do Sermão da Montanha declara:
“Ouviste o que foi dito: Olho por olho, e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. E, ao que quiser pleitear contigo, e tirar-te a tua túnica, larga-lhe também a capa. E, se qualquer te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas” (Mateus 5, 38-41).
São imperativos de uma ação política fundada na paz, na recusa de meios violentos. Deve-se buscar a conciliação e amar o inimigo:
“Ouviste o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizeis os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem…” (Mateus 5, 43-44).
São belas palavras, mas a história demonstra que as ações humanas na esfera política – e mesmo religiosa – não se pautam por elas. Já o florentino, no século XVI, observou a impossibilidade de agir politicamente segundo esses preceitos. Nem mesmo os papas! Do tempo de Maquiavel aos dias atuais persiste o dilema da ação política confrontada com as exigências da ética. Como escreve Max Weber: “Pode-se realmente acreditar que as exigências éticas permaneçam indiferentes ao fato de que toda política utiliza como instrumento específico a força, por trás da qual se perfilha a violência?” (p.111).
A ética do evangelho é para candidatos a santos e a política é feita por homens e mulheres de carne e osso, capazes de atos grandiosos, mas também de crueldades indescritíveis. Ensina o florentino que o “homem que desejar fazer a profissão de bondade, mui natural é que se arruíne entre tantos que são perversos”. Os profetas desarmados foram derrotados.
__________* Aos meus alunos do curso de Direito (UEM), que me fazem refletir sobre o passado, presente e futuro.[1] Ver WEBER, M. Ciência e Política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1993.[2] As citações são do Novo Testamento, editado por “Os Gideões Internacionais”, 1995, confrontadas com a Bíblia Sagrada, traduzida e editada pela CNBB, Brasília, 2002.[3] MAQUIAVEL, N. O Príncipe. São Paulo, Hemus: 1977, p.87.

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